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sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Reunião de Estudo - debate do livro "Museus e memória indígena no Ceará: uma proposta de construção"

Membros REM-CE,

Convidamos a todas e todos para mais uma reunião que visa a contrução do nosso III Seminário REM-CE: museus e comunidades. Nesta data, será debatido o livro "Museus e memória indígena no Ceará: uma proposta de construção" de Alexandre Oliveira e João Paulo Vieira Neto, com a presença do autor João Paulo Vieira.
Com isso, buscamos enfatizar as relações possíveis entre meio museológico e diversas categorias de comunidade.

Obs: O livro pode ser comprado no Museu do Ceará e será enviado em PDF pelo contatoremce@gmail.com.

Coord. REM-CE

Sobre o Livro:

Nesta publicação, feita pelo Museu do Ceará no final de 2009, compartilhamos um pouco do processo de musealização das memórias indígenas no Ceará. Além de apresentarmos e refletirmos sobre as experiências acumuladas em anos de trabalho como técnicos do Museu do Ceará e pesquisadores da questão indígena, cabe à publicação partilhar a metodologia para a estruturação dos museus indígenas e as análises sobre o seu processo de constituição.
Sistematizado a partir da realização da oficina Diagnóstico Rápido Participativo, realizado entre grupos indígenas do Ceará (Tremembé, Tapeba, Pitaguary, Kanindé, Potiguara, Tabajara, Kalabaça), o livro traz o processo de organização dos museus indígenas como então se encontrava naquele momento.
Em 2010, foi criado o Museu Indígena Jenipapo-Kanindé, e agora totalizam 4 os espaços de memória indígena no Ceará, juntando-se ao Memorial Tapeba Cacique Perna-de-Pau, a Oca da Memória de Poranga, o Museu dos Kanindé de Aratuba. Estes museus vêm funcionando, cada qual com suas especificidades, geridos no interior de suas comunidades e articulados com o trabalho das escolas diferenciadas.
Apresentamos um recorte do trabalho feito com patrimônio cultural no Ceará desde 2002, a partir do Projeto Historiando, especificamente a linha de atuação voltada para a estruturação de espaços de memória entre grupos étnicos, o livro agora está disponível para sua livre distribuição via internet, com objetivos de socializar as informações e metodologias, suscitar diálogos e interconexões e, principalmente, propiciar e fortalecer os processos de protagonismo na gestão do patrimônio e memória entre os grupos indígenas.
Transitando entre a História, Museologia e Antropologia, apresentamos 6 propostas de estruturação museológica que ocorreram no interior de um processo de discussão sobre a formulação de políticas públicas para memória-patrimônio, que ensejamos quando ainda trabalhávamos no Museu do Ceará. Traz, ainda, em anexo, propostas feitas no diálogo entre grupos indígenas, quilombolas, comunidades de terreiro e do movimento negro urbano e o Estado; o Estatuto de Museus (2009) e um modelo de ficha de inventário, adotado pelo Museu do Ceará. Maiores informações, segue a apresentação, da historiadora e profa. de Museologia da UFG Manuelina Duarte.

Alexandre Gomes,
Coordenador do Projeto Historiando
Mestrando em Antropologia (PPGA-UFPE)


PREFÁCIO
Este trabalho que tenho a honra de apresentar é a primeira iniciativa de fôlego, no Ceará, sobre a questão da musealização das memórias indígenas. Além de apresentar e refletir sobre as experiências, cabe a ele partilhar a metodologia e as análises sobre o seu processo de elaboração. Segundo Varine (2009), “o desenvolvimento local ‘sustentável’, enquanto processo dinâmico de transformação da sociedade e do meio, assenta em grande parte na participação activa e criativa das comunidades locais. Sem essa participação, teremos apenas uma mera execução de programas tecnocráticos, cuja eficácia depende da combinação conjuntural e efêmera de uma vontade política e da disponibilidade de meios financeiros e humanos”. O diagnóstico museológico, passo fundamental para qualifi cação dos processos de musealização, deve ser realizado tanto para a verificação de potencialidades e desafios de um museu já existente como para a criação de um novo, sendo que neste caso avaliamos as potencialidades e desafios de um patrimônio ainda não musealizado. Cabe esclarecer que nossa compreensão de musealização e de museu abrange processos relacionados à administração da memória e à aplicação de procedimentos técnicos e metodológicos visando à apropriação desse patrimônio pela sociedade (BRUNO, 1996), seja isto realizado ou não fora do âmbito das instituições.

O Projeto Historiando, coordenado por Alexandre Oliveira Gomes e João Paulo Vieira Neto, vem realizando estas experiências de musealização com nome de “projetos de memória” desde 2002. Despretensiosamente, realizou importantes intervenções na relação entre comunidades cearenses e seu patrimônio, que devem ser analisadas como processos de musealização, ou seja, de projeção no tempo, em perspectiva processual e com visibilidade social, de fenômenos que têm origem no “fato museal”: a relação entre o homem e o objeto em um cenário (RUSSIO, 1981). Este trabalho foi feito a partir de um olhar de historiadores que, se por um lado buscavam atender aos “desejos de memória” (GONDAR, 2000) de diferentes comunidades, partilhando umconhecimento acumulado nos anos de atuação como técnicos do Museu do Ceará, possibilitando às iniciativas comunitárias adaptação às novas exigências do Estatuto de Museus, por outro lado assumia partir de um campo do conhecimento específico: a História.
Evidentemente que a memória, campo interdisciplinar por excelência, levou os autores a dialogar com outras áreas do conhecimento e o texto demonstra esta familiaridade com o aparato teórico-conceitual de áreas como a Antropologia e a Museologia. Mas fica evidente a conexão com o pensamento da História sobre os silenciamentos e os processos de construção da memória e das identidades étnicas. Volto a Varine para explicitar a amplitude da noção de museu aqui adotada: “Tudo o que existe, com duas ou três dimensões, sobre o território e no seio da comunidade, pode ser utilizado para a educação popular, para a observação, o conhecimento do meio, a análise, a aprendizagem, o consumo, o controle da técnica, a identidade, o conhecimento do passado. A sua principal qualidade é ser uma realidade tangível que multiplica a sua virtude pedagógica” (VARINE, 2009). No mesmo texto, o autor aponta inventários e exposições participativas como meios para recriar as identidades locais e identifi car pessoas-recurso, agentes do desenvolvimento. É buscando, nas palavras dos próprios autores deste livro, potencializar estas experiências de memória identifi cadas, que eles recorrem ao aporte da Museologia e o compartilham com os grupos indígenas por meio de ofi cinas de ação educativa museológica. Comprovam na prática o efeito da educação popular como qualifi cadora dos projetos ligados à memória e à preservação e construção das identidades. Também experienciam uma premissa de que a Museologia tem uma faceta a ser compartilhada com as comunidades, para que elas mesmas possam assumir a liderança dos processos de musealização. Neste sentido, outros trabalhos de musealização junto às comunidades indígenas têm sido desenvolvidos (vide VIDAL, 2008) e devem ser fortalecidos como estratégia. Para isto, são fundamentais publicações como esta, que ampliam o âmbito de divulgação das experiências e permitem iniciar um rico diálogo entre propostas afins.

Goiânia, setembro de 2009
Manuelina Maria Duarte Cândido
Profa. de Museologia da FCS/UFG

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