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quarta-feira, 17 de abril de 2013

Acessibilidade em museus: uma necessidade

Penso que todo mundo deveria, pelo menos uma vez na sua vida, usar uma muleta/bengala/cadeira de rodas; ou mesmo uma venda nos olhos; ou simplesmente fingir não ouvir ou falar. Penso que todo mundo deveria, pelo menos uma vez na vida, se colocar no lugar do outro e perceber como fazem falta atitudes e equipamentos que garantem a acessibilidade das pessoas aos lugares. Talvez assim conseguíssemos garantir o mínimo de acessibilidade e respeito às pessoas com deficiência.
Acessibilidade e inclusão em espaços expositivos não devem mais ser vistos como um artigo de luxo, mas sim como uma necessidade gritante, que muitas vezes não é garantida. Foi-se o tempo em que os museus e galerias eram vistos apenas como espaços da elite. O museu tem por objetivo garantir a preservação de um patrimônio e divulgá-lo à sociedade (que é, na realidade, sua dona e construtora). Para melhor divulgar seu acervo ou exposições, o museu (ou espaços expositivos) precisa assumir seu papel como organização educativa e garantir que todos tenham acesso ao seu material.
Com as leis que vem surgindo ultimamente sobre acessibilidade e inclusão, vários espaços têm repensado suas posturas e garantido, pelo menos, uma reforma. Mas será que a palavra é mesmo essa: “repensado”?! Às vezes eu tenho a impressão de que alguns lugares estão simplesmente “cumprindo uma ordem”, mas não pensam se aquela ação vai ser realmente acessível. Preparei então uma série de imagens que me fazem pensar “pra que essa rampa tá aí?”


         


Depois disso, fica óbvio que “cumprir a lei” não faz de você, ou do seu espaço, respeitoso para com as pessoas com deficiência. E a situação fica ainda mais constrangedora quando o espaço oferece o serviço até que direitinho, mas esse nunca funciona; leia-se: “o elevador está quebrado, senhor(a)”. Mas não é um dia que ele tá quebrado, é de vez em quando, é há meses, ou, pior, é desde sempre!

Voltando à história de pelo menos um dia na vida usar uma bengala, ontem tive uma experiência no mínimo constrangedora com relação a elevadores e espaços expositivos. Em visita a um centro cultural de Fortaleza, com o joelho imobilizado e usando uma bengala, fui carregada nos braços por meu companheiro por 2 lances de escada em “L” para ter acesso à exposição de uma amiga. Isso tudo porque o elevador estava quebrado. Ouvi, atrás de mim, quando uma funcionária do local falou “ah! Esse elevador tá sempre assim”. Sempre?! O que faz um espaço deixar seu elevador sempre ou de vez em quando dar problema e não ligar pra isso? A única resposta que me vem à cabeça é desrespeito com as pessoas com deficiência. Já que não há uma preocupação em oferecer um bom serviço.
E ainda tem quem argumente: “mas nós recebemos poucas pessoas com deficiência”. É claro! A mim, pelo menos enquanto estiver de bengala, não interessa retornar lá e nem indicar a nenhum amigo com deficiência. As pessoas com deficiência sabem onde andar e indicam umas às outras espaços acessíveis.
Há alguns anos, eu estagiava num outro centro cultural de Fortaleza, quando foi contratada uma educadora Surda[1]. Até então, pouco se tinha a visitação de Surdos ali. Mas é claro que à medida que viam que os educadores estavam sendo preparados para recebê-los, os Surdos indicavam o espaço a outros amigos na mesma condição. A partir daí, era normal ter a visita de Surdos no espaço. Todavia, era constrangedor dizer a uma pessoa com deficiência locomotora ou física que ela teria que se aventurar para descer uma rampa íngreme até o andar inferior para ver as outras exposições. Pior ainda era dizer que o elevador estava quebrado e teríamos que levá-la por um elevador de carga!
Você pode não saber ainda, mas esse “jeitinho” que alguns espaços dão para “cumprir a lei” pode causar sérios riscos à saúde das pessoas com deficiência, desde pequenos acidentes até agravar sua situação – o espetáculo de ontem com meu companheiro me subindo nos braços por dois andares comprometeu até mesmo minhas cordas vocais, devido o estresse. A melhor maneira de cumprir a lei é oferecer espaços seguros e adequados, além da manutenção constante de seus equipamentos. É uma questão de respeito.
Pra finalizar, uma coisa que você será capaz de notar se um dia se colocar no lugar da pessoa com deficiência é que todos lhe olham, mas não lhe veem. Por incrível que pareça! Todo mundo olha pra mim e me segue com o olhar se perguntando sobre a bengala; mas ninguém me vê na hora de falar, geralmente perguntam a quem me acompanha: “o que foi isso? Moto?” Até onde eu sei, imobilizar o joelho não te deixa surdo ou incapaz de responder a perguntas. Outra forma de não ver é sair de perto quando eu preciso de ajuda ou fingir que é normal e aceitável não oferecer condições mínimas de acesso e permitir que as pessoas passem por momentos constrangedores e não possam exercer o seu direito básico de ir e vir.

"Se o lugar não está pronto para receber todas as pessoas, o lugar é deficiente"
Thais Frota



Sara Nina
Artista e coordenadora de Estudos e Formação da REM CE



[1] A palavra “Surdo”, com “S” maiúsculo, designa uma pessoa com A.D. auditiva que se comunica através da Língua Brasileira de Sinais e que participa diretamente da cultura Surda. A inicial maiúscula, na opinião dos Surdos, traz reconhecimento à cultura e à língua deles.

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